ENTRE O CAVIAR E O PEIXE PODRE

A UNITA, que é o maior partido da oposição que o MPLA (ainda) permite em Angola, disse hoje que as autoridades do MPLA estão (como sempre fizeram nos últimos 48 anos) a criar um “bode expiatório” para tentar fugir à essência dos problemas do país (20 milhões de pobres, por exemplo), com a acusação do seu alegado envolvimento na organização das manifestações de sábado passado.

O secretário-geral da JURA, braço juvenil da UNITA, lamenta que a polícia do MPLA (formalmente designada como Polícia Nacional) tenha “embarcado no campo político, quando a mesma é vítima do actual contexto socioeconómico do país”.

“Nunca as forças de segurança e ordem estiveram tão miseráveis como estão hoje, mas são arrastadas numa lógica política que é para tentarem ir ao encontro de uma narrativa construída pelo Presidente (da República), João Lourenço”, disse hoje Nelito Ekuikui.

Para o líder da Juventude Unida e Revolucionária de Angola (JURA), João Lourenço “tem sido incapaz de governar Angola nos últimos anos”. Tal como, acrescente-se, o MPLA foi incapaz desde o tempo (11 de Novembro de 1975) em que trocou os colonialistas portugueses pelos seus próprios colonialistas.

“Aqui o que está a acontecer é criar um bode expiatório para tentar fugir à essência do problema, que é a alteração do preço da gasolina, é a cesta básica que aumentou significativamente o preço”, referiu, apontando o encerramento dos armazéns e o combate à venda ambulante, “numa economia que é 90% informal”, como cerne dos protestos dos cidadãos.

“Agora o Presidente João Lourenço não consegue dar resposta a esses problemas, precisa responsabilizar terceiros no sentido de sair de fininho para um problema que ele próprio causou”, frisou Nelito Ekuikui.

A polícia do MPLA acusou, em comunicado de imprensa, os deputados, dirigentes e militantes da UNITA de terem participado de forma directa na organização dos actos do que chama de desordem pública, resultantes das manifestações, sobretudo de Luanda e Benguela.

Nelito Ekuikui e Adriano Sapinãla, secretário provincial da UNITA em Luanda, estiveram presentes na marcha da capital angolana.

Activistas e membros da sociedade civil foram os promotores da manifestação nacional contra a subida dos preços do combustível, fim da venda ambulante e a Lei das Organizações Não-Governamentais, que em Luanda foi dispersada pela polícia do MPLA com a “civilizada” distribuição de balas, gás lacrimogéneo e porrada de criar bicho.

“Em Luanda e Benguela, contrariamente ao que ocorreu nas outras províncias, os promotores das manifestações não observaram os pressupostos legais exigidos e, em desobediência às indicações sobre o itinerário preestabelecido, primaram por arruaças, rebelião e violência contra as forças policiais”, lê-se no comunicado da Polícia do MPLA.

Ekuikui recordou que a JURA, na sua reunião de Bailundo (província do Huambo) anunciara “apoio total e incondicional a esta manifestação que se realizou nos termos da Constituição e da lei”. “Portanto, está em comunicado e nós sempre assumimos que estaríamos presentes, como estivemos”, realçou.

O também deputado desfiou mesmo o Presidente angolano a recuar na medida da subida do preço do combustível: “Baixe o preço da gasolina, tudo ao normal, ele (Presidente da República) pode recuar, ele é humano e falha e não é o facto de ser Presidente que ele não pode falhar, ele falha”.

Nelito Ekuikui aconselhou também o chefe de Estado, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo a procurar avançar com medidas para estabilizar a economia do país, considerando que, “se assim acontecer, as pessoas, no dia seguinte, já não estarão nas ruas”.

“Porque, ninguém instrumentaliza um indivíduo com fome, a fome em si instrumentaliza, o problema é a fome, este é que é o problema e se ele resolver este problema, de certeza terá uma governação pacífica e nós estaremos lá para apoiá-lo”, afirmou.

O político da UNITA lamentou ainda que a marcha tenha sido reprimida, por divergências entre os manifestantes e as forças da ordem, estas que, a dado momento, disse, decidiram anular o itinerário que se tinha combinado.

“Porque se tivessem deixado a juventude marchar até ao largo das escolas não haveria incidente nenhum, porque é facto que a um dado momento eles barraram a estrada e houve esse desentendimento que, naturalmente, se transformou num momento menos bom”, rematou Nelito Ekuikui.

De acordo com a polícia, as manifestações, em que empregou “meios tácticos operacionais moderados e proporcionais para a reposição da ordem pública”, provocaram ferimentos a vários participantes, entre cidadãos e sete efectivos da corporação.

Recorde-se que, segundo o general João Lourenço, a fome em Angola ou não existe ou é relativa. E o Dono disto Tudo sabe bem do que fala. Como é que se pode falar de fome num reino em que a elite monárquica tem ementas do tipo trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas e umas garrafas de Château-Grillet 2005?

Folha 8 com Lusa

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